Movimento cultural surgido no fim da década de 1960, que utilizando o deboche, a irreverência e o improviso, revolucionou a música popular brasileira, até então dominada pelos princípios estéticos da Bossa Nova. Liderado pelos músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil, o Tropicalismo usa as idéias do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade para utilizar elementos estrangeiros que entram no país e, por meio de sua fusão com a cultura brasileira, criar um novo produto artístico.
O Tropicalismo é o movimento da contracultura. Utilizando valores diferentes dos permitidos pela cultura dominante, incluindo referências consideradas cafonas, ultrajadas ou subdesenvolvidas, atingem, diretamente, o mundo artístico dominado pela elite brasileira.
Os artistas da Tropicália estavam cansados dessa visão elitista e do preconceito nacionalista presentes no cenário musical do Brasil. Acreditavam na necessidade de aproximar os jovens da arte popular, jovens estes que se viam cada vez mais fascinados pelo "iê-iê-iê" e pela batida pop dos Beatles. E, diferentemente da Bossa Nova, a Tropicália não pretendia sintetizar um estilo musical, mas sim instaurar no país uma nova atitude. Sua participação na cena cultural brasileira foi, antes de tudo, crítica (e não alienada, como diziam).
Canções como "Alegria, Alegria" (Caetano Veloso) e "Domingo no Parque" (Gilberto Gil) são consideradas marcos oficiais do novo movimento e já chegaram ao público provocando enorme polêmica no III Festival da Música Popular Brasileira da Tv Record, exibido em outubro de 1967. A grita foi geral: setores de esquerda da época classificaram a influência do rock como marca de alienação cultural nos tropicalistas. Fora isso, shows foram cancelados, letras de Caetano e Gil foram completamente ou parcialmente vetadas e os dois foram condenados ao exílio.
A Tropicália criticava fortemente os valores ético-morais da sociedade brasileira da época, que se encontrava sob o domínio de uma ditadura militar. O casamento era (mais do que hoje) um valor burguês tido apenas como instituição financeira. Os tropicalistas acreditavam que a vida era curta demais para se esperar pelo processo histórico. Eles queriam viver, amar, caminhar livremente, sem se preocupar com a "ordem e o progresso", por isso foram tão perseguidos. Para eles, o que importava era a busca da felicidade e, seguindo a linha da filosofia de Epicuro, acreditavam que a felicidade estava na liberdade; na autonomia.
Apesar de ter se revelado tão explosiva quanto breve (com pouco mais de um ano de vida oficial), a Topicália continuou influenciando gerações posteriores de artistas da música popular brasileira, como: Ney Mato Grosso, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e muitos outros. E, ao contrário do que muitos pensam, também ficou conhecida internacionalmente, com diversos artigos publicados no periódico norte-americano The New York Times e na revista britânica The Wire, o que destaca sua posição e sua devida importância no modo de pensar a arte brasileira que, certamente, não foi a mesma após o movimento tropicalista.
Gostaria que os poucos representantes da Tropicália que ainda existem ainda tivessem essa garra, esse espírito revolucionário e, sobretudo, essa vontade de fazer música com a cabeça...
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