quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Um Poeta Rebelde

(Márcia Oliveira)

Manuel Maria de Barbosa Du Bocage, considerado pela crítica literária um dos maiores sonetistas portugueses, acompanhado de Camões e Antero de Quental, foi um artista que, pelo menos didadticamente representou o Arcadismo, mas por sua rebeldia em relação às normas e regras do soneto e também pela originalidade de sua poesia, conseguiu romper com o convencionalismo árcade e aproximou-se muito dos românticos.





"Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro."







Este trecho deixa bem claro que Bocage acreditava que as normas existem simultaneamente para refrear excessos e excitá-los pela força da proibição. E não era isso que o poeta queria, ele queria liberdade para expressar seus sentimentos, seu modo de pensar o mundo e seus desejos.


Por conta desta liberdade, muitas vezes, Bocage foi incompreendido, e alguns temas utilizados em sua poesia lhe custaram prisão e processos, como: a teoria do amor natural ("Amar é um dever, além de um gosto/uma necessidade e não um crime"), a distinção entre erotismo e pornografia ("Dá-me tédio a lição de escritos torpes"), o uso desatado de calão, a crítica ao clero ("Mandai desentulhar esses conventos/Em favor da preguiça edificados"), todos estes são tópicos que tornaram Bocage intolerável aos olhos da rigorosa censura portuguesa, e até hoje são pouco freqüentes em antologias bocagianas.




Aos mesmos




De insípida sessão no inútil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gótica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.
Taful que o português não lhe entendia,
Nem ao resto da cômica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.
Dos sócios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovões, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.



Neste soneto, assim como em muitos outros, Bocage fala de si mesmo e prossegue em sua campanha de desmoralização dos membros da Nova Arcádia. A ironia do texto advém de sua linguagem, da tosca relação Parnaso/Galegage, por exemplo. Além de sua aversão à hipocrisia da Academia árcade, Bocage também em muito criticou o sistema político português, o que também lhe resultou em prisões e processos.
Como hoje acordei lembrando dele, resolvi postar algo a seu respeito aqui. Seria uma maldade não dividir Bocage com vocês. Todo mundo merece, pelo menos um soneto de Bocage na vida! - :)

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